"Toda revolução é improvável até tornar-se inevitável" (Leon Trotsky)
"As revoluções são a locomotiva da História" (Karl Marx)
Imagine um jovem de 15 anos, no auge da sua rebeldia, anciosamente esperando por sua "liberdade" aos 18. Mas 3 anos passam muito rápido e, de repente, já é maior de idade... E agora, o que fazer quando se é dono do próprio nariz e precisa arcar com as devidas consequências disto?
De certa forma, isto é o que acontece com a maioria das revoluções. Calma, já explico... rsrs
O povo é o motor e termômetro de toda revolução, e coisas realmente grandiosas podem surgir a partir da sua mobilização. Por isso, mais do que qualquer outra ameaça externa, a maior preocupação de qualquer governo sempre será seu próprio povo.
Mas não basta simplesmente se revoltar e derrubar o regime, é preciso, antes de tudo, ter um projeto de governo, pois o poder sempre domina e cega aqueles que não sabem o que fazer com ele, e a história está repleta de exemplos de revoluções e governantes que se perderam no meio do caminho, assim como muitos também se perderam na vida quando chegaram aos 18 e começaram a se achar "donos do mundo"... Ficou clara esta metáfora?
Em A revolução dos bichos, o inglês George Orwell faz uma metáfora dos descaminhos da Revolução Russa, criando uma fazenda onde os revolucionários animais, cansados de tanta exploração e maus tratos, expulsam os seres humanos e passam o poder para os porcos, que posteriormente se tornam tão cruéis e corruptos quanto os antigos donos da fazenda.
O mesmo George Orwell, um comunista convicto profundamente decepcionado com a União Soviética, também escreveu em outro livro, "1984": Não se impõe uma ditadura com o objetivo de salvaguardar uma revolução, mas já se faz a revolução visando estabelecer a ditadura. Neste mesmo sentido, a filósofa alemã Hannah Arendt afirma: Todo revolucionário se torna conservador no dia seguinte da revolução.
Isto é, o perigo das revoluções que conhecemos se transformarem em outros governos ainda mais cruéis existe quando os novos líderes se colocam como Messias, como salvadores da pátria e líderes insubstituíveis, quando se colocam acima da revolução e do próprio povo. Revoluções são necessárias, porém perigosas.
De fato não existe revolução sem povo, e até mesmo as "revoluções burguesas" (Inglaterra 1688, EUA 1766 e França 1789) foram frutos da insurreição popular. A questão é que, feito o movimento revolucionário, a classe burguesa assumiu o comando da situação e direcionou o processo para seu próprio benefício, brecando transformações que poderiam beneficiar os maiores responsáveis por eles estarem no poder. Em outras palavras, o povo fez a revolução, mas no meio do caminho perdeu o controle e ficou à margem de todo processo, substituindo uma tirania por outra.
Citando outro caso mais recente no Oriente Médio. Até 1979, o Irã era governado por um ditador que se autodenominava Xá (Rei, em persa) Reza Pahlevi, que governava segundo interesses dos EUA e da Inglaterra, deixando a população na mais absoluta miséria. Com o agravamento desta situação ganhou força, juntamente com a insatisfação popular, um forte sentimento de rejeição ao Ocidente, habilmente utilizado pela cúpula religiosa que tomou o controle da situação no país, o "Mulá" (Clero).
A partir de então, o país passou a ser uma "Teocracia" (governo onde a religião e o clero são a própria lei) e governado pela elite suprema de Aiatolás (maior autoridade muçulmana no Irã). Este "presidente" briguento que vemos nos noticiários, Mahamoud Ahmadinejad, na realidade é mera cortina de fumaça e fantoche dos verdadeiros donos do país, os Aiatolás. Apesar de serem importante contraponto à política de intervenção dos EUA no Oriente Médio, o povo paga um alto preço pela truculência e autoritarismo do governo.
Desta forma, é preciso olharmos com muito cuidado este momento extremamente delicado que vive o Egito, assim como o restante do mundo árabe, pois o processo todo ainda está em aberto e as antigas forças que dominavam o país não descansarão enquanto não controlarem de novo a situação.
No Egito, a cúpula do exército, profundamente envolvida na estrutura podre do ex-presidente Hosni Mubarak, foi quem assumiu a tarefa de conduzir o país para a "transição democrática", e são muitas as contradições: Um dos chefes da transição é o mesmo general que mandou o exército descer o porrete na população, acampada na Praça Tahir durante as manifestações. É possível confiar em tal sujeito? Com certeza não...
Mesmo não sinalizando para uma nova ditadura, é bom a juventude e o povo egípcio ficarem muito espertos, e assumirem papel de protagonistas da história, pois a verdadeira revolução não terminou com a queda de Mubarak, mas apenas começou. O povo tem que ficar atento à "qual" democracia estão sendo conduzidos pelos militares, e manter a pressão sobre o novo governo para que a revolução não pereça no meio do caminho e as coisas voltem a ser como antes, ou até piores.
Enfim, esta revolução só será complemamente vitoriosa se o povo assumir seu papel de protagonista e conduzir o processo, não tornar "divinos" os próximos líderes e cobra-los com toda força caso o governo descaminhe. A luta está apenas começando!
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Grande abraço!
Alessandro Santana
É exatamente isso! A revolução não acabou e o povo egípcio sabe disso. Não é a toa que ainda estavam na praça Tahir e foram expulsos... pelo exército! Como eu já havia dito a mudança aconteceu mas pode-se levar muitos anos para que os eixos sejam encaixados. Veja aqui no Brasil, até hoje há resquícios da Ditadura que ainda não foram resolvidos mas que a população está na cobrança. É isso que devem fazer os egípcios e os outros povos se conseguirem a mudança também.
ResponderExcluirMuito bem dito! Parece que agora que o Mubarak já foi deposto tudo acabou e todos vão aos poucos esquecendo da situação, e é exatamente isso que o exército deseja. Mas é nesse momento que a população deve se manter mais alerta.
ResponderExcluireu concordo com camila
ResponderExcluira populaçao deve manter en alerta