quarta-feira, 4 de maio de 2011

Os supertimes e a globalização do futebol

Vivemos a era da globalização, sendo cada vez maior a interdependência entre os países. Vivemos um tempo de contradições, onde a noção de "fronteira" é objeto de conflitos dentro da "Aldeia global".

Ao mesmo tempo que não há limite para a circulação de dinheiro e informações, leis rigorosíssimas impedem a imigração e selecionam de forma eugênica quem pode ou não se estabelecer no país. Em tempos de crise econômica e ressessão, este conflito entre o cidadão nativo e o estrangeiro fica ainda mais evidente, com uma explosão de movimentos neofascistas, xenófobos e rascistas.

Neste sentido, o futebol se torna um grande espelho da sociedade. Na França há uma grande população vinda do continente africano, principalmente de ex-colônias francesas, gerando intensos conflitos. No entanto, um dos maiores ídolos da história do país é de família argelina, Zinedine Zidane. Na própria seleção nacional predominam jogadores negros, filhos de estrangeiros e naturalizados.

O mesmo acontece na Alemanha, berço do nazismo. Lá também há muitos conflitos entre grupos neofascistas e a população de origem turca, marcante no país. Entretanto, muitos turcos são destaques dos times da Bundesliga e até mesmo da seleção, como o jovem craque Ozil , contratado este ano pelo Real Madrid (ESP). Casos semelhantes ocorrem em vários outros países.

Perceba o tamanho da contradição: ao mesmo tempo que se esbraveja que o estrangeiro é culpado pelo desemprego e pela crise econômica, vibra-se com o gol que ele faz pelo time ou seleção. Durante várias temporadas o goleiro queniano Kameni foi destaque pelo Espanyol (ESP), sendo consagrado como um dos melhores jogadores da liga. Mas quando entrou em má fase, muitos jogadores começaram a jogar cascas de banana no campo, e a ofende-los com palavras racistas.

Torcedor passional ou criminoso?

No momento em que se limita a imigração, os clubes se tornam "seleções do mundo". Ano passado (2010) a Internazionale de Milão (ITA) foi campeã do mais importante torneio de clubes do planeta, a Champions League, sem ter nenhum jogador nascido na Itália dentro do time titular. Eram todos estrangeiros, de todos os cantos do planeta-bola.

Em praticamente todos os clubes de médio e grande porte da Europa, o número de forasteiros supera o de cidadãos nativos. Uma excessão é o Barcelona (ESP), que conta com um trabalho de formação de atletas muito eficiente e é a base da seleção espanhola, campeã mundial de 2010. É preciso ressaltar que o maior gênio recente do clube é um argentino de 23 anos, Lionel Messi.

Desta forma, clubes de países mais pobres, principalmente sulamericanos, se tornam meros exportadores de matérias-primas. Quem não se lembra do menino "Cacá", que mal apareceu no São Paulo FC e já foi vendido, a preço de banana, para o Milan (ITA), onde se tornou um dos melhores e mais caros jogadores do mundo. Ronaldo "fenômeno", Ronaldinho gaúcho e Alexandre Pato são apenas mais alguns exemplos.

 Isso quando o menino sulamericano não se torna profissional no clube europeu, como no caso de Messi, garimpado por um dos olheiros do barça espalhados pelo mundo.

Assim, estes supertimes se tornam também grandes marcas globalizadas, arrecadando uma fabulosa quantia financeira com a transmissão de jogos e venda de produtos oficiais/licenciados ao redor do mundo, mobilizando multidões por onde passam.

Para finalizar, uma pequena reflexão sobre o sentido da "Copa do mundo" de futebol nos tempos da globalização. Desde que foir criada, em 1930, a Copa sempre foi essencialmente uma disputa entre nações, onde a cada 4 anos um típico nacionalismo se aflora, e o povo pinta as ruas, veste a camisa da seleção e canta o hino nacional com orgulho. O país inteiro para quase completamente em dias de jogos e todos ficam ligados na tela da tv, atentos a cada lance, até mesmo aqueles (as) que não entende absolutamente nada de futebol...

Entretanto, o que se verificou nas últimas Copas é que cada vez mais as seleções nacionais agem como os clubes, recrutando (nacionalizando) jogadores de diversas partes do mundo afim de aumentar suas chances de vitória. Na Copa de 2010 (África do Sul), por exemplo, havia 3 jogadores brasileiros naturalizados disputando por Portugal, 1 pelos EUA, 1 pela Alemanha, 1 pela Itália, 1 pelo Japão, além de ter o treinador da seleção dona da casa (C. A. Parreira).

Chegamos ao ponto de, numa partida entre Alemanha e Gana, ter um irmão Boateng representando cada país.

Vivemos uma era de extremos e contradições, onde praticamente tudo na sociedade tem um valor financeiro, incluse as relações pessoais, os nacionalismos e a identidade nacional.


Em tempo, apenas uma reflexão para complementar o texto. É no mínimo irônico que, somados os valores dos jogadores de Barcelona e Real Madrid, por exemplo, se tenha quase o PIB da Espanha, empobrecida pela crise econômica e endividada até o pescoço. Enorme paradoxo é estes clubes irem na contramão da maré, torrando dinheiro e arrecadando como nunca em meio a uma massa de desempregados. Sei não, mas poderia chegar o dia em que Messi e Cristiano Ronaldo serão vendidos para salvar a economia espanhola... 

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Abraço!
Alessandro Santana