sexta-feira, 22 de julho de 2011

Isso é sertanejo, cara-pálida?


“É preciso amor pra poder pulsar, é preciso paz pra poder sorrir, é preciso a chuva para florir... Cada um de nós compõe sua própria história, cada ser em si carrega o dom de ser capaz, de ser feliz...”♫♪ (Renato Teixeira / Almir Sater – Tocando em frente)

Graças a meu pai, cresci ouvindo música sertaneja, cantores como Sérgio Reis, João Mineiro e Marciano, Almir Sater, Liu e Léo, entre tantos outros. É simplesmente impossível ouvir a música “filho adotivo”, especialmente na voz de Sérgio Reis, e não lembrar de meu velho pai, falecido há alguns anos, pois era uma de suas favoritas. Aliás, música sertaneja raiz sempre é fonte para boas lembranças.

Sempre me encantou o som da viola, a simplicidade e a sabedoria das modas que falavam sobre coisas do mundo caipira, umas mais tristes, outras até engraçadas. Clássicos da cultura popular!

Não dá para a gente pensar em “cultura” como algo engessado, parado no tempo e que será sempre a mesma coisa. Ao contrário, está em constante transformação, sempre mesclando o elemento tradicional (que é transmitido durante gerações) com as características da sociedade do presente, que se diz moderna. Entre outras coisas, cultura é uma constante e dinâmica fusão entre presente e passado.

A música sertaneja, como manifestação cultural, também está inserida neste contexto de transformações. Entretanto, cabe aqui uma reflexão, se o que a mídia chama hoje de “sertanejo”, com seus arranjos ultra modernos, músicas pasteurizadas e cantores sem a menor identificação com o mundo rural ainda contém a essência daquela música antiga de quem herdou nome do gênero musical.

Primeiro, devo dizer que não tenho absolutamente nada contra o “sertanejo universitário” e as outras vertentes recentes do gênero (como versões misturadas com pagote, tecno e funk) e tampouco quero denegrir quem canta e quem ouve. Respeito acima de tudo. Aliás, algumas músicas são bastante agradáveis e, particularmente, gosto muito do som de César Menotti & Fabiano, Vitor e Léo, entre outros, e me sinto hipnotizado pela voz e o sorriso da belíssima Paula Fernandes.

Luan Santana, por exemplo, é um garoto que por onde passa arrasta milhares de fãs - adolescentes em sua imensa maioria, um fenômeno da indústria musical que arrecada muito dinheiro com shows, cd/dvd, etc. Não dá pra dizer que Luan Santana é um cantor sertanejo... Ele é, no mínimo, uma versão cowboy e menos colorida do Restart.

Perceba como funciona esta indústria de mídia, que a todo momento dita o que é moda ou não, quais são os cantores e bandas do momento e quais são os ultrapassados. Cada uma destas “duplas sertanejas” – como João Bosco & Vinícius, Fernando e Sorocaba, ou cantores solos – Luan Santana, Michel Teló, entre outros; normalmente tem 1 ou 2 músicas que tocam incessantemente nas rádios, nos programas de tv e fazem uma verdadeira lavagem cerebral. Agora pare para analisar o conteúdo das letras e perceba que todas elas seguem um mesmo padrão, falam praticamente a mesma coisa. Isso é uma música pasteurizada.

Lembro-me dos anos 90, onde o que se ditava como moda era o pagode, e houve um surto de bandas meteóricas que chegaram ao sucesso com a mesma velocidade com que sumiram. Alguém ainda se lembra de grupos como Molejo, PO Box, Karametade ou Só no sapatinho (este último tinha como vocalista o filho do ex-jogado Zico), entre tantos outros? Pois é, é exatamente assim que funciona a indústria de ídolos instantâneos, cada um atrás de seus 15 minutos de fama. Recomendo aqui a música “Jesse go”, um ótimo rock do Ultraje a rigor que fala justamente destes ídolos tão imediatos quanto descartáveis, aí vai o link (http://youtu.be/ajY57s3wr5s)

Este é um assunto que rende pano pra manga e pode ser tema de posts futuros, mas o mesmo fenômeno que escrevo aqui sobre o sertanejo pode ser observado em outros gêneros musicais, como samba e o rock. Afinal, Restart e bandas parecidas podem ser qualquer coisa, menos de rock. Alguém discorda de mim?

Alguém me explica, por favor, o que Cláudia Leite tem a ver com o “rock in rio”? Seria o mesmo que colocar Sepultura ou Ozzi Osborn num trio elétrico baiano... Tudo a ver!

Enfim, voltando ao assunto... se você curte estas variantes de sertanejo, proponho que conheça um pouco do trabalho de artistas como Renato Teixeira e Almir Sater e faça uma pequena análise de suas letras. Tenho certeza que irá se surpreender com uma grande riqueza de experiência e sabedoria, o que nossa música brasileira tem de melhor. 

Alessandro Santana