“É preciso amor pra poder pulsar, é preciso paz pra poder sorrir, é preciso a chuva para florir... Cada um de nós compõe sua própria história, cada ser em si carrega o dom de ser capaz, de ser feliz...”♫♪ (Renato Teixeira / Almir Sater – Tocando em frente)
Graças a meu pai, cresci ouvindo música sertaneja, cantores como Sérgio Reis, João Mineiro e Marciano, Almir Sater, Liu e Léo, entre tantos outros. É simplesmente impossível ouvir a música “filho adotivo”, especialmente na voz de Sérgio Reis, e não lembrar de meu velho pai, falecido há alguns anos, pois era uma de suas favoritas. Aliás, música sertaneja raiz sempre é fonte para boas lembranças.
Sempre me encantou o som da viola, a simplicidade e a sabedoria das modas que falavam sobre coisas do mundo caipira, umas mais tristes, outras até engraçadas. Clássicos da cultura popular!
Não dá para a gente pensar em “cultura” como algo engessado, parado no tempo e que será sempre a mesma coisa. Ao contrário, está em constante transformação, sempre mesclando o elemento tradicional (que é transmitido durante gerações) com as características da sociedade do presente, que se diz moderna. Entre outras coisas, cultura é uma constante e dinâmica fusão entre presente e passado.
A música sertaneja, como manifestação cultural, também está inserida neste contexto de transformações. Entretanto, cabe aqui uma reflexão, se o que a mídia chama hoje de “sertanejo”, com seus arranjos ultra modernos, músicas pasteurizadas e cantores sem a menor identificação com o mundo rural ainda contém a essência daquela música antiga de quem herdou nome do gênero musical.
Primeiro, devo dizer que não tenho absolutamente nada contra o “sertanejo universitário” e as outras vertentes recentes do gênero (como versões misturadas com pagote, tecno e funk) e tampouco quero denegrir quem canta e quem ouve. Respeito acima de tudo. Aliás, algumas músicas são bastante agradáveis e, particularmente, gosto muito do som de César Menotti & Fabiano, Vitor e Léo, entre outros, e me sinto hipnotizado pela voz e o sorriso da belíssima Paula Fernandes.
Luan Santana, por exemplo, é um garoto que por onde passa arrasta milhares de fãs - adolescentes em sua imensa maioria, um fenômeno da indústria musical que arrecada muito dinheiro com shows, cd/dvd, etc. Não dá pra dizer que Luan Santana é um cantor sertanejo... Ele é, no mínimo, uma versão cowboy e menos colorida do Restart.
Perceba como funciona esta indústria de mídia, que a todo momento dita o que é moda ou não, quais são os cantores e bandas do momento e quais são os ultrapassados. Cada uma destas “duplas sertanejas” – como João Bosco & Vinícius, Fernando e Sorocaba, ou cantores solos – Luan Santana, Michel Teló, entre outros; normalmente tem 1 ou 2 músicas que tocam incessantemente nas rádios, nos programas de tv e fazem uma verdadeira lavagem cerebral. Agora pare para analisar o conteúdo das letras e perceba que todas elas seguem um mesmo padrão, falam praticamente a mesma coisa. Isso é uma música pasteurizada.
Lembro-me dos anos 90, onde o que se ditava como moda era o pagode, e houve um surto de bandas meteóricas que chegaram ao sucesso com a mesma velocidade com que sumiram. Alguém ainda se lembra de grupos como Molejo, PO Box, Karametade ou Só no sapatinho (este último tinha como vocalista o filho do ex-jogado Zico), entre tantos outros? Pois é, é exatamente assim que funciona a indústria de ídolos instantâneos, cada um atrás de seus 15 minutos de fama. Recomendo aqui a música “Jesse go”, um ótimo rock do Ultraje a rigor que fala justamente destes ídolos tão imediatos quanto descartáveis, aí vai o link (http://youtu.be/ajY57s3wr5s)
Este é um assunto que rende pano pra manga e pode ser tema de posts futuros, mas o mesmo fenômeno que escrevo aqui sobre o sertanejo pode ser observado em outros gêneros musicais, como samba e o rock. Afinal, Restart e bandas parecidas podem ser qualquer coisa, menos de rock. Alguém discorda de mim?
Alguém me explica, por favor, o que Cláudia Leite tem a ver com o “rock in rio”? Seria o mesmo que colocar Sepultura ou Ozzi Osborn num trio elétrico baiano... Tudo a ver!
Enfim, voltando ao assunto... se você curte estas variantes de sertanejo, proponho que conheça um pouco do trabalho de artistas como Renato Teixeira e Almir Sater e faça uma pequena análise de suas letras. Tenho certeza que irá se surpreender com uma grande riqueza de experiência e sabedoria, o que nossa música brasileira tem de melhor.
Alessandro Santana
Gostei! tenho a mesma opinião que você. Mas isso é o capitalismo que em tudo se entranha e a tudo corrompe, até a belíssima arte e espírito caipira...
ResponderExcluirOlá Luciana, muito obrigado pelo comentário, e concordo inteiramente contigo!
ResponderExcluirCaro Alessandro, concordo com você em gênero e grau. Até ouço estas músicas da nova geração, pasteurizada, más geralmente em festas, com mais pessoas que certamente iriam preferir este repertório. Quando quero ouvir música sertaneja da melhor qualidade, no aconchego do meu cantinho, aí sim recorro aos grandes poetas da nossa cultura. Além dos que você já citou, gostaria de fazer menção a outros de igual valor: Tonico e Tinoco, Tião Carreiro, Rolando Boldrin, Milionário e José Rico, Pena Branca e Xavantinho...Eita, IPod aí vou eu, deu uma vontade de ouvir música de verdade!
ResponderExcluirBem, concordo com você, também nenhum deles podem falar da vida rural, se não viveu isso. Mas sobre o Luan... sugiro que ouça mais músicas dele, tenho certeza que não tem um só conteúdo. Segue esse link http://www.vagalume.com.br/luan-santana/
ResponderExcluirEles são otimos, apaixonaddisma.
ResponderExcluirEm nenhum momento meu objetivo foi denegrir duplas de sertanejo universitário, pelo contrário, estou inserindo-os dentro do contexto da indústria musical, tanto hoje como ontem...
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