"Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas, e pessoas transformam o mundo". (Paulo Freire)
quarta-feira, 12 de novembro de 2014
O que Francisco representa para mim, e o que espero do papa.
Quem me conhece sabe que, especialmente após cursar História e tomar contato com leituras de teólogos como Leonardo Boff entre outros de pensamento mais à esquerda, sempre fui muito crítico à ideia de uma fé cega, seguida sem questionamento algum, seja ela qual for e em quem for. Conhecendo um pouco mais sobre a Igreja Católica e percebendo coisas que não me agradavam e não comungavam com a figura histórica de Jesus, me afastei.
Pesou e muito analisar o papel desempenhado pela igreja desde quando se tornou a religião oficial do império romano, sempre ao lado do poderosos, sejam eles reis, imperadores, senhores feudais, burgueses... Pesou também saber que a igreja nunca foi um todo homogêneo e que, mesmo sendo este o direcionamento da cúpula de sacerdotes, parte dela sempre esteve junto aos injustiçados, lutando e dando a vida por eles.
Eu vi Jão Paulo II, papa responsável pelo massacre de toda ideologia dentro da igreja que não estivesse ligada ao capitalismo. Vi Bento XVI com suas túnicas e ornamentos dourados e cercado de luxo, lembrando mais um papa do Renascimento, o mesmo Joseph Ratzinger que outrora chefe da Congregação para a Defesa da Fé Cristã (o mesmo Santo Ofício, responsável pelas fogueiras humanas na idade média, apenas com outro nome), ao lado de João Paulo, ser ortodoxo e implacável com qualquer um que ousasse dizer que o direcionamento da igreja estava errado. Sinceramente, mesmo sendo cristão, nunca me senti representado por eles. Mesmo assim, também nunca me considerei ateu.
Entretanto, eis que tenho uma gratíssima surpresa. Quem iria imaginar que a fumacinha branca do último Conclave traria ao mundo um Sumo Pontífice tão progressista, capaz não apenas de iniciar uma imensa reforma dentro do próprio Vaticano e sua estrutura, mas também redirecionar o foco da igreja, questionando as injustiças contra os mais frágeis socialmente. Parece ser o mínimo a se esperar de um líder religioso no século XXI, que ele não tenha preconceitos contra os pobres, as mães solteiras, os homossexuais, os excluídos da sociedade como um todo, reconhecer que fé e ciência caminham juntas. Um papa sem luxo algum, despido de todo tipo de riqueza material.
Mesmo em tese não sendo mais do que sua obrigação, já é um passo absolutamente enorme que para a igreja, reconhecer os verdadeiros desafios do nosso tempo e não perder de vista a real essência da mensagem de Jesus, que é de justiça e amor ao próximo, seja ele quem for.
Jesus, antes de tudo, foi um questionador. Visite os Evangelhos e verá que em raríssimas vezes ele esteve enfurnado dentro de sinagogas. Seu verdadeiro lugar de atuação era as ruas, onde entrava nas casas daqueles considerados párias da sociedade - os quais todos evitavam, repartindo o pão, questionando porque os pobres são pobres, trazendo à reflexão aqueles que julgam e lançam pedras nos outros apesar de ter também suas faltas, mesmo judeu, questionando a podridão dos líderes religiosos de sua época e os envergonhando profundamente. Dando a vida pela causa defendida. Sim meus amigos, Jesus foi assassinado pois mexeu num imenso vespeiro, desnudando a sociedade em seu tempo.
Vejo com imensa alegria Jorge Mário Bergoglio, nosso Papa Francisco, acenar em favor dos movimentos sociais, dos excluídos e injustiçados pelo sistema capitalista e seus agentes, chamar os cristãos à atividade política, não necessariamente partidária, mas à luta contra tudo que impede as pessoas a viverem com dignidade. Enxergo em Francisco este Jesus histórico que acredito, questionador e corajoso.
Sou historiador, sou de esquerda, e nestes termos, tenho muito orgulho de ser católico, de pertencer à mesma igreja e comungar dos mesmos princípios que este homem. Que ele tenha vida longa, seja muito abençoado e consiga dar prosseguimento ao seu projeto de transformação, trazendo a igreja católica do século XVIII para o XXI. Deus te abençoe, Francisco, pois ainda há muito a ser feito.
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