Madrugada de 31 de março de 1964, tropas do exército ocupam postos estratégicos em vários estados e exigem a deposição do então presidente, João Goulart. A verdade da manhã de 1º de abril, o Brasil já possuia novos governantes.
Engana-se quem pensa que os militares simplesmente organizaram as tropas e tomaram o poder, assim como que eles agiram sozinhos. Quem os conduziu ao poder foi a própria burguesia brasileira, medíocre e hipócrita, reagindo às transformações sociais do então presidente.
Para entendermos o golpe civil-militar de 64, é necessario primeiro voltarmos a alguns fatos que o antecederam:
1º O sistema eleitoral da época
Bem diferente de hoje em dia, o vice não era necessariamente do partido do presidente. Isto é, nas eleições, o mais votado se elegia tendo o 2º colocado como seu vice. Este sistema permitiu a bizarrice de termos, nas eleições de 1961, Jânio Quadros (União Democrática Nacional - UDN) e João Goulart (PTB). Em termos de hoje, imagine um governo composto por um presidente do PSDB e um vice do PT. Tinha tudo pra dar errado...
2º Jânio Quadros, o "presidente vassorinha"
O Brasil acabava de sair da Era JK, o "presidente bossa nova", um período de grande efeverscência cultural, desenvolvimento industrial e de astronômico crescimento da dívida externa. Desta forma, o demagogo Jânio Quadros se apresentou nas eleições de 61 com uma vassora, que usaria para "varrer" a corrupção do país, rejeitando a herança populista de Juscelino Kubtschek.
Vencendo, seu governo foi marcado por tantas trapalhadas que acabaram por desgasta-lo tanto entre os setores mais conservadores da sociedade brasileira, a quem representava, até o povo em geral.
Assim, numa jogada mal calculada, afirmou que reunciaria se sua aprovação popular não melhorasse. Obviamente o povo não o carregou em seus braços como previra, e ele teve que cumprir sua sentença.
3º Jango e as reformas de base
Com a renúncia de Jânio Quadros, naturalmente o poder passou para o vice João Goulart, conhecido como Jango. Herdeiro político de Getúlio Vargas, uma de suas primeiras ações foi lançar um projeto de "reformas de base", que incluíam o início de um processo de reforma agrária, distribuição de renda, além de várias mudanças sociais e políticas que visivelmente beneficiavam a população em geral. Jango também limitou a remessa de lucros das multinacionais para suas sedes, fortacelendo o operariado.
Jango passava longe do que na época era ser um comunista, mesmo assim a Direita brasileira, intimamente ligada aos interesses dos EUA, iniciou uma intensa campanha difamatória contra o presidente, ainda mais depois da aproximação comercial do Brasil com a China de Mao-Tsé-Tung.
Não pode ser desconsiderado aqui que estávamos no auge da guerra fria, e no ocidente eram difundidas as mais absurdas propagandas anticomunistas.
Receosos da dimensão que poderiam tomar estas medidas populares, parlamentares agiram rapidamente, impondo um plebiscito para trocarem o sistema presidencialista pelo parlamentarismo, onde o eles próprios governariam e o presidente seria apenas uma figura decorativa. No entanto, a população rejeitou este novo sistema, e Jango saiu fortalecido.
Não obstante, a campanha difamatória se intensificou, e a mídia alardeava que o país estava rumo a um governo comunista em que a população seria massacrada e a religião destruída. Acusações falsas brotavam a todo instante e eram exaustivamente exploradas pela impensa.
A paranóia chegou ao ápice em 13 de março de 64, quando cerca de 500 mil pessoas saíram às ruas do Rio de Janeiro na "marcha com Deus pela liberdade". O circo estava armado e a maioria dessas pessoas talvez nem desconfiasse ou sabia exatamente o que estava "combatendo", e que os militares já estavam prontos para assumir o poder.
4º "Lições" do golpe
É importante termos em mente que o golpe civil-militar de 64 não foi necessariamente dos militares, mas da burguesia brasileira. Os militares, convocados para "colocar ordem" no país, por outro lado, seguiram suas por outras trilhas e endureceram o regime em dezembro de 1968, quando através do Ato Institucional nº 5 (AI-5), mostraram a face mais cruel da repressão. Nesta época, o cidadão brasileiro tinha 3 opções: vivia como se nada estivesse acontecendo, fugia ou se exilava do país ou ficava na clandestinidade lutando contra o governo, colocando a própria vida em risco nas mãos dos milicos militares.
No começo, essa elite fez vista grossa ao que estava acontecendo, dando total apoio aos desmandos do governo. Quando a situação mudou e o povo já não conseguia mais conter a insatisfação, ela colocou seu rabinho entre as pernas e se revestiu de libertadora, escondendo que fora ela própria que os havia conduzido ao poder.
Bom, este foi um texto bastante didático e sintetizado sobre um período tão nebuloso e cruel da nossa história, mas que precisa ser bastante compreendido para que não se repita. Preste atenção ao nosso moomento histórico, esteja sempre vigilante e tenha senso crítico em relação a tudo que lê e assiste. Ao ler as notícias, sempre questione: quem escreve, pra quem escreve, e com quais interesses escreve. Assim você saberá discernir um jornalismo sério de outro que age em favor de interesses econômicos e, sem a mínima ética, descaradamente manipula a verdade e a população.
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Abraço!
Alessandro Santana
"Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas, e pessoas transformam o mundo". (Paulo Freire)
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
terça-feira, 7 de setembro de 2010
Viva a Independência?!
"Independência ou morte!". Todos nós já ouvimos falar na escola de um heróico 7 de setembro de 1822, quando o valoroso D. Pedro I empunhou sua espada e nos libertou de Portugal.
Romantismos históricos à parte, é preciso desconstruir alguns mitos, o primeiro deles, em relação a "como" aconteceu esse fato histórico. Segundo aponta a historiografia recente, o real 7 de setembro de 1822 pouco tem a ver com o retratado nesta tela de Pedro Américo (a cima). D. Pedro e sua comitiva voltavam de Santos, onde o príncipe regente havia se encontrado com a bela Domitila, a Marquesa de Santos. Voltavam ao Rio de Janeiro quando, dizem, uma tremenda dor em sua nobre barriga (talvez tenha abusado dos espetinhos de camarão à beira da praia), obrigou Pedro a fazer um pit stop às margens do riacho Ipiranga.
Neste momento, emissários de seu pai, D. João VI, alcançavam a comitiva para entregar a mensagem do Rei. Ao ler, D. Pedro talvez tenha pensado "não quero voltar pra Portugal....". Pense no cenário. Ao invés de belos cavalos, suas montarias eram jumentos, mais apropriados aos desníveis e curvas do caminho; Ao invés de trajes de gala, vestiam algo parecido com guarda-pó; Aliás, até mesmo essa famosa comitiva era bem reduzida.
Isso é muito importante: 7 de setembro é apenas uma data simbólica. Quem na realidade articulou e financiou a separação entre "Brasil" e Portugal foi José Bonifácio de Andrada, juntamente com os senhores de engenho do nordeste, a quem mais interessava o fim das relações coloniais. Como príncipe regente, D. Pedro vislumbrou no movimento golpista uma possibilidade de assumir o poder por aqui sem precisar se submeter às ordens de seu pai, por isso foi colocado à frente.
Ao contrário de outro países, aqui não teve necessariamente uma "revolução". Nossa independência foi conquistada mediante pagamento de pesadas indenizações aos cofres de Portugal, e à repressão de isolados conflitos entre brasileiros e portugueses inconformados.
Você deve estar se perguntando, neste momento: "então esse 7 de setembro e o grito do ipiranga é uma grande mentira?". Eu te respondo: Mais ou menos. Mais do que nos separar de Portugal, era necessário criar uma nação e construir uma história - heróica - que justificasse este feito. Sem querer complicar muito, é o que a filósofa Marilena Chauí denomina "mito fundador".
"Independência" também é um termo um tanto questionavel, pois ficamos livres de Portugal, mas ficávamos cada vez mais dependentes dos interesses ingleses, e depois do $$$ dos EUA. Hoje o Brasil é independente?
Foi importante ficarmos "independentes" de Portugal? Claro que sim, isso é inegável. Entretanto, como você pode ver, isso foi um processo que pouco tem a ver com a heróica história tradicional tão propagada por professores e pela mídia.
Gostou? Deixe um comentário e me siga no twitter: www.twitter.com/ale_historiador
ALUNOS: RESPONDAM NOS COMENTÁRIOS A SEGUINTE PERGUNTA E GANHE UM PONTO EM HISTÓRIA COM O PROFº ALESSANDRO: ESCREVA UMA FRASE EM ATÉ 140 CARACTERES RESPONDENDO À PERGUNTA "O QUE É INDEPENDÊNCIA PARA VOCÊ"?
PS: NÃO ESQUEÇA DE SE IDENTIFICAR!
Romantismos históricos à parte, é preciso desconstruir alguns mitos, o primeiro deles, em relação a "como" aconteceu esse fato histórico. Segundo aponta a historiografia recente, o real 7 de setembro de 1822 pouco tem a ver com o retratado nesta tela de Pedro Américo (a cima). D. Pedro e sua comitiva voltavam de Santos, onde o príncipe regente havia se encontrado com a bela Domitila, a Marquesa de Santos. Voltavam ao Rio de Janeiro quando, dizem, uma tremenda dor em sua nobre barriga (talvez tenha abusado dos espetinhos de camarão à beira da praia), obrigou Pedro a fazer um pit stop às margens do riacho Ipiranga.
Neste momento, emissários de seu pai, D. João VI, alcançavam a comitiva para entregar a mensagem do Rei. Ao ler, D. Pedro talvez tenha pensado "não quero voltar pra Portugal....". Pense no cenário. Ao invés de belos cavalos, suas montarias eram jumentos, mais apropriados aos desníveis e curvas do caminho; Ao invés de trajes de gala, vestiam algo parecido com guarda-pó; Aliás, até mesmo essa famosa comitiva era bem reduzida.
Isso é muito importante: 7 de setembro é apenas uma data simbólica. Quem na realidade articulou e financiou a separação entre "Brasil" e Portugal foi José Bonifácio de Andrada, juntamente com os senhores de engenho do nordeste, a quem mais interessava o fim das relações coloniais. Como príncipe regente, D. Pedro vislumbrou no movimento golpista uma possibilidade de assumir o poder por aqui sem precisar se submeter às ordens de seu pai, por isso foi colocado à frente.
Ao contrário de outro países, aqui não teve necessariamente uma "revolução". Nossa independência foi conquistada mediante pagamento de pesadas indenizações aos cofres de Portugal, e à repressão de isolados conflitos entre brasileiros e portugueses inconformados.
Você deve estar se perguntando, neste momento: "então esse 7 de setembro e o grito do ipiranga é uma grande mentira?". Eu te respondo: Mais ou menos. Mais do que nos separar de Portugal, era necessário criar uma nação e construir uma história - heróica - que justificasse este feito. Sem querer complicar muito, é o que a filósofa Marilena Chauí denomina "mito fundador".
"Independência" também é um termo um tanto questionavel, pois ficamos livres de Portugal, mas ficávamos cada vez mais dependentes dos interesses ingleses, e depois do $$$ dos EUA. Hoje o Brasil é independente?
Foi importante ficarmos "independentes" de Portugal? Claro que sim, isso é inegável. Entretanto, como você pode ver, isso foi um processo que pouco tem a ver com a heróica história tradicional tão propagada por professores e pela mídia.
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